Quando a balança afeta o cérebro

Um tema bem oportuno: o acúmulo de gordura prejudica a memória e favorece até o aparecimento de demência vascular. Pesquisas constatam que esse acúmulo de gordura no corpo prejudica a memória e, com a liberação de substâncias tóxicas, favorece a inflamação crônica e o aparecimento de demência vascular, principalmente em mulheres. Esse é o nosso tema desta semana.

Vamos lá!

Controlar o peso, há tempos, não é uma questão apenas estética. Além do leque de problemas físicos já incessantemente discutidos e constatados por médicos e especialistas, manter-se em boa forma faz bem para a memória. Dois pesquisadores, um em Brasília e outro em São Paulo, provaram que o acúmulo de gordura corporal, principalmente a abdominal, contribui para a demência vascular. O problema surge quando o corpo desenvolve resistência à insulina, o que desencadeia uma série de distúrbios – até chegar ao cérebro.

Os estudos associaram o sobrepeso à perda de memória após constatar que o excesso de tecido adiposo torna o organismo resistente aos hormônios insulina e leptina – que processam a memória no hipocampo, além de ser responsáveis pela sensação de saciedade. Essa resistência, causada também pela gordura visceral, faz com que o pâncreas trabalhe dobrado e produza mais insulina para abastecer os demais órgãos.

 

Em contrapartida, o hipocampo permite o depósito das proteínas conhecidas como beta-amiloides, capazes de cortar a transmissão de informações entre os neurônios. A falta de insulina fomenta um distúrbio chamado de arteriosclerose, que consiste em obstruir os vasos. Com isso, o fluxo sanguíneo com destino à massa cinzenta diminui, as artérias não conseguem abastecer o cérebro e os neurônios morrem, causando a degeneração das células nervosas.

O coordenador da pós-graduação em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília, Adriano Tavares, explica que, na arteriosclerose, processo de oclusão de pequenas artérias por todo o corpo, a quantidade de sangue diminui e, consequentemente, a de oxigênio. E, dependendo do local acometido pela doença, pode haver diferentes repercussões a longo prazo. “No coração, por exemplo, pode acarretar infarto. No rim, insuficiência renal. No cérebro, demência isquêmica, e assim por diante”, ilustra. Ele complementa que a resistência insulínica é um prejuízo, pois o corpo pode utilizar a glicose em diferentes regiões do corpo.

Mais queixas

Em São Paulo, a geriatra Nídia Horie acompanhou, por quatro anos, 22 mulheres com mais de 60 anos e índice de massa corporal (IMC) acima de 30, considerado obesidade. “Como essas pacientes apresentam grande risco para disfunção cognitiva, nós realizamos testes neuropsicológicos antes e depois da intervenção”, descreve. Além dessa avaliação, o plano consistia em prática de exercício duas vezes por semana e a adoção de um cardápio menos calórico.

Segundo Nídia, na conclusão do estudo, houve uma diminuição significativa no peso e na circunferência da cintura. Entre as 17 pacientes que perderam mais de 5% do peso, foi percebida a melhora no mini-exame do estado mental. “Houve uma correlação positiva entre o aumento da memória imediata e diminuição do peso”, acredita.

 

Nídia conta que os aspectos do tratamento da obesidade podem ser associados à proteção contra o declínio cognitivo. Ainda nos resultados, a geriatra ressalta que em testes que medem o desempenho da memória imediata e incidental, as diabéticas apresentaram discreta melhora, maior que as outras. Ela conta que os danos à memória causados pela obesidade podem ser reversíveis nos jovens. Já naqueles que são obesos há muitos anos, com sintomas de perda cognitiva, essa reversão pode ser mais difícil.

Direção Geral: Fábio Rocha

Texto: Kubitschek Pinheiro